Castigo, humilhação e medo: as denúncias contra a Igreja Mananciais.
Ex-ministra de louvor denuncia abusos emocionais, humilhações públicas e exploração dentro da Igreja Mananciais.
Por Equipe Sucesso
Publicado em 26/06/2025 14:07
MUNDO GOSPEL
Castigo, humilhação e medo: as denúncias contra a Igreja Mananciais.

A ex-ministra de louvor Alyeni Donasci, que integrou por anos a Igreja Mananciais, rompeu o silêncio e trouxe à tona denúncias graves sobre o funcionamento interno da instituição. Em entrevista concedida ao canal Fuxico Gospel, ela afirma que sofreu abusos emocionais, foi exposta publicamente e usada como mão de obra não remunerada, especialmente durante o período em que participou da “turma especial”, um curso intensivo oferecido pela igreja.

Segundo Alyeni, a estrutura da Igreja Mananciais funciona como um sistema fechado, com rígido controle sobre os membros, especialmente os jovens selecionados para as formações internas. “Eles diziam que era para formar o caráter de Cristo em nós, mas era uma manipulação total. Usavam o medo, a culpa, a vergonha”, declarou.

Rotina rígida, punições e perda de identidade

A jovem afirma que, ao ingressar na chamada “turma especial”, abriu mão de sua independência para se dedicar integralmente à igreja. “Larguei meu emprego, saí da casa dos meus pais, entreguei tudo. Eles querem isso: que você se desconecte da sua base para se tornar dependente deles”, disse.

O curso funcionava como um regime fechado, segundo ela, com cronograma de aulas, exercícios físicos obrigatórios, avaliações constantes e um sistema de pontuação. “Se você começasse a perder ponto por atraso, desobediência ou por qualquer comportamento fora da cartilha, era punido. Beijar um namorado era motivo para disciplina. Mentir, reclamar ou demonstrar cansaço também.”

Alyeni conta que havia um ambiente de vigilância constante e que todos os passos dos alunos eram monitorados. “Tudo que você fazia era observado e avaliado. Havia um medo constante de ser cortado, excluído ou desonrado. Eles diziam que quem não suportasse o processo era porque estava em pecado.”

Exposição pública como forma de humilhação

Um dos momentos mais marcantes do curso, segundo a ex-ministra, era a chamada “semana do impostor”, em que os alunos eram expostos diante dos demais para revelar seus “pecados” e supostas fraquezas. “Cada um tinha que se apresentar com um objeto que representasse seu pior defeito. Ali eu me senti nua, exposta, envergonhada”, contou.

Esse tipo de exposição, segundo ela, era comum dentro da Igreja Mananciais e fazia parte de um processo que ela classifica como “quebra emocional”. “Eles acreditam que só destruindo a sua personalidade é que conseguem moldar o caráter de Cristo. Mas o que faziam era nos quebrar por dentro.”

Ela relembra também os momentos em que foi humilhada durante ensaios de louvor. “Dentro do ministério de música, recebi palavras duras. Diziam que minha adoração era carnal, que eu não era digna de estar ali. Depois disso, eu chorava no banheiro, tinha crise de ansiedade. Mas voltava pedindo perdão, achando que eu era a errada.”

 

Trabalho compulsório e exploração de voluntariado

Durante a formação, os alunos eram designados para diversas funções internas e externas — muitas delas, segundo Alyeni, análogas ao trabalho doméstico. “Fomos obrigados a limpar casas de pastores, cuidar dos filhos deles, lavar banheiros, cozinhar. Não havia remuneração, e se questionássemos, diziam que era ‘serviço ao Reino’.”

Ela relata que algumas alunas foram enviadas para servir famílias de líderes mesmo sem consentimento. “Conheço casos de meninas que eram praticamente babás. Ficavam com os filhos dos pastores enquanto eles viajavam. Isso era imposto como parte do processo de formação.”

Ainda segundo Alyeni, esse tipo de exploração era disfarçado de discipulado e espiritualidade. “Nos convenciam de que servir era nossa missão, mas o que fazíamos era sustentar uma estrutura elitista com trabalho gratuito.”

Difamação e vazamento de mensagens pessoais

Após o fim de um relacionamento com outro integrante da igreja, Alyeni conta que se tornou alvo de difamação. Segundo ela, líderes tiveram acesso a conversas privadas e compartilharam prints de forma seletiva, gerando boatos sobre um suposto vídeo íntimo.

“Espalharam para todos que havia um vídeo meu. Isso nunca existiu. Mas os prints que vazaram foram usados para justificar minha exclusão da igreja. Me vi sozinha, sem apoio, acusada e cancelada”, relatou.

Ela acredita que a exposição foi usada para protegê-los e silenciá-la. “Queriam proteger o rapaz com quem me relacionei e manchar minha imagem. Fizeram isso para calar qualquer tentativa de denúncia.”

Acusações sobre enriquecimento e falta de transparência

Além das questões emocionais e morais, Alyeni também questiona as finanças da instituição. Segundo ela, as Igrejas Mananciais operam com diversas entidades vinculadas — como escolas, editoras e empresas — que movimentam grandes quantias, mas sem transparência.

“Só com mensalidades, eles arrecadam valores altíssimos. Já vi turmas pagarem entre R$ 750 e R$ 1.800 por mês. Multiplica isso por dezenas de alunos, em várias unidades. Não existe prestação de contas. É um sistema altamente lucrativo.”

Ela afirma que algumas empresas estariam registradas em nomes de familiares dos líderes, dificultando a rastreabilidade dos recursos. “Usam CNPJs diferentes para as escolas, para os produtos, para a loja. É tudo fragmentado. É como se houvesse um império privado por trás da fé.”

“Não vou me calar”, diz Alyeni

Mesmo ciente das possíveis consequências jurídicas e pessoais, Alyeni afirma que seguirá expondo o que vivenciou. “Essas denúncias são muito graves, e eu sei que posso ser atacada, mas não vou parar. Se minha dor servir para salvar outras pessoas desse sistema, então vale a pena.”

Ela também afirma que outras ex-integrantes têm relatos semelhantes, mas ainda não se sentiram seguras para falar. “Tem gente com medo, com traumas. Eu só consegui falar agora, depois de muita terapia. Mas tem muita coisa ainda para ser contada.”

Igreja não respondeu

A reportagem do Fuxico Gospel entrou em contato com a Igreja Mananciais para solicitar um posicionamento oficial sobre as denúncias apresentadas por Alyeni Donasci. Até o fechamento desta matéria, a instituição não respondeu aos questionamentos.

 

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